sábado, 4 de junho de 2011

Elementos da dialogicidade freiriana

Oi pessoal,

Conforme essa nova atividade nos pede, venho trazer aqui para o nosso "diário de bordo" uma situação que essa discussão - sobre os elementos da dialogicidade segundo Paulo Freire - me trouxe a mente. Vou tratar de uma situação que me marcou bastante, no entanto, infelizmente, tratam-se de marcas negativas, visto que a situação da qual pretendo falar ilustra um momento, em EaD, onde tais elementos apontados por Freire, tão importantes na relação educacional, em realidade, faltaram. Vamos ao caso em si.

Quando comecei a atuar na EaD, houve uma pequena confusão entre os alunos recém-ingressos no curso. Na realidade a confusão foi simples, mas não pequena, pois levou a problemas sérios, em alguns casos, até à reprovação. Esses alunos estavam concluindo a disciplina "Educação a distância" enquanto aguardavam pela próxima disciplina começar. As disciplinas subsequentes seriam "Língua Inglesa 1B" e em seguida "Língua Inglesa 1A", exatamente nessa ordem. No entanto, os alunos, por uma questão de lógica, presumiram que a primeira disciplina seria, evidentemente, a 1A, que seria posteriormente seguida pela 1B. No próprio solar, na tela subsequente ao login, era exibida uma tela que mostrava todas as disciplinas nas quais os alunos estavam matriculados. Nessa mesma tela a disciplina 1A era seguida da 1B, o que ajudava ainda mais a reforçar o engano. Portanto, na época, quando os alunos iam checar se a outra disciplina já havia iniciado, eles, simplesmente, clicavam na disciplina (Língua Inglesa 1A) logo abaixo da primeira (Educação a Distância). Resultado, os alunos só perceberam de fato o que estava acontecendo quando a disciplina 1B já havia começado fazia tempo, perdendo as primeira aulas e primeiras atividades.

Tão logo percebemos o problema, eu, enquanto tutor presencial, e os alunos procuramos resolvê-lo. Tivemos a preocupação de não atropelarmos instâncias e portanto recorremos primeiramente ao tutor semipresencial da disciplina. Explicamos a situação e pedimos um oportunidade para que os alunos pudessem ler as aulas iniciais e entregar as ativiades perdidas. Contudo, a tutora em questão se mostrou irredutível, agumentando que havia mandado mensagens tanto via solar, quanto por e-mail para os alunos, para que eles acessassem a disciplina. Outro argumento apresentado pela tutora foi que eles deviam ter acessado o cronograma de atividades.

Argumentamos de volta, mostrando que, primeiramente, as mensagens enviadas via solar de nada serviram, visto que os alunos estavam concentrados na disciplina 1A, por acharem que essa viria antes da 1B, checando somente a caixa de entrada da 1A. Já em relação aos e-mails pessoais, venhamos e convenhamos, muitas pessoas instruídas não sabem usar seus e-mails pessoais apropriadamente, o que era o caso de alguns desses alunos que não possuíam muita familiaridade com a internet. No caso em questão, os emails pessoais enviados pela professora iam direto para o spam e, como os alunos nunca foram instruídos a respeito da necessidade de se checar spams, esses e-mails passavam desaspercebidos. Muitos alunos nem ao menos sabiam o que eram spams. Havia ainda um agravante, o email da professora era um nome feminino seguido da palavra "mulher", como "alexandrina_mulher@qualquercoisa.com" (exemplo meramente ilustrativo sem referência real ao e-mail da professora). Alguns alunos que chegaram a ver tais e-mails não os abriram achando que se tratava de conteúdo pornográfico (seria cômico, se não fosse trágico). Já em relação ao cronograma de atividades, esse não se encontra no solar e sim em um outro site, o site http://www.virtual.ufc.br/portal/cursos.aspx, a respeito do qual os alunos não tiveram nenhuma orientação e, nem mesmo eu, tutor presencial, sabia a respeito, visto que os tutores presenciais não recebem instruções antes de começarem a atuar. A única instrução que os alunos receberam nesse sentido era que deviam checar com frequência a agenda da disciplina, que só mostra datas próprias e não de outras disciplinas. A tutora ainda assim se mostrou irredutível.

Resolvemos, então, levar o caso para a professora coordenadora da disciplina. Essa simplesmente disse estar de mãos atadas quanto à situação, não podendo ir contra a decisão da tutora. Claro que insistimos, mas ela também se manteve irredutível. No final, quando levamos o caso a coordenadora do curso, muito tempo já havia se passado e a situação estava dificílima de se resolver, agora mais que antes.

No que mais insistiram tutora e coordenadores foi que os alunos ainda teriam uma chance se mantendo no curso, fazendo todas as atividades e tirando notas boas. Na minha opinião o que faltou foi diálogo, o que faltou foi os elementos de que trata Freire: amor, humildade, fé nos homens, esperança e, um pensar crítico. Ora, todos nós sabemos como é difícil aprender uma língua nova, imagine começar de forma abalada. Bastava pensar um pouco, imagine alunos que perderam as primeiras unidades de um curso de uma língua estrangeira tendo que pegar o bonde andando e dar continuidade ao curso. Enquanto eles aprendiam sobre o conteúdo novo, o que já era muito difícil, pois não tinham a base que vinha do conteúdo anterior, tinham que voltar às unidades perdidas, estudar tudo aquilo, tudo isso enquanto davam continuidade às novas atividades. O resultado final foi desistências e reprovações, claro que não de todos, pois, como alguns eram inclusive professores de inglês, conseguiram dar a volta por cima. No fim foi duro ainda ouvir como justificativa o fato de que "se alguns conseguiram, todos podiam", mesmo quando, nesse caso específico, era possível enxergar bem as diferenças de níveis.

Até hoje me sinto mal pelo que aconteceu. Na minnha opinião vi mais uma injustiça sendo cometida. Não culpo tutores e coordenadores pelo que aconteceu, quem conhece os coordenadores sabe dos inúmeros problemas que esses precisam resolver diariamente na EaD. Sabem das inúmeras desculpas falsas que ouvem todos os dias de diversos alunos que tentam burlar regras para passarem sem esforço, e o que é pior, sem aprendizagem, por uma graduação. Na minha opinião, mais culpado é o sistema que nos é imposto. Nós professores acabamos sendo impelidos a fazermos muito ao mesmo tempo. Somos abarrotados de tarefas e, no fim, acaba sendo mais prático acreditar que os alunos erraram e que, portanto, pagarão por isso, do que sentar, refletir e discutir se seria justo que esses alunos pagassem por tal fatalidade. Não havia tempo para tanto, muito menos para que consertássemos tal fatalidade. A tutora por exemplo, teria que corrigir as novas atividades e as atividades antigas. Como seria isso? Isso não seria problema se ela realmente dispusesse de tempo enquanto professora.

No fim, para mim, faltou diálogo real, faltou os elementos de que trata Freire: amor, humildade, fé nos homens, esperança e, um pensar crítico. Não houve espaço, no tempo de que dispúnhamos, para tanto.

Um comentário:

  1. Nossa, Tarcízio, lamentável esse fato! Realmente, você está certo, esses elementos freirianos passaram batido! É interessante ver como "pequenas" atitudes nossas podem ter grandes proporções no futuro, tanto positiva como negativamente...

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