domingo, 19 de junho de 2011

O MEU OLHAR É NÍTIDO COMO UM GIRASSOL...

PENSEI EM COMPARTILHAR COM VOCÊS ESSA POESIA DE FERNANDO PESSOA

O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás…
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem…
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras…
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo…
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo.
Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender…
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo…
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos…
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar…
Amar é a eterna inocência,
E a única inocência não pensar…

Alberto Caeiro, em “O Guardador de Rebanhos”, 8-3-1914

Acredito que ensinar é estar aberto a essa novidade e permitir que outros estejam...

Um comentário:

  1. Obrigada por compartilhar o poema conosco, Tom! Amo Fernando Pessoa e seus heterônimos! Acho que a gente se identifica com muitos trechos do texto...

    ResponderExcluir